segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

POESIA: Das Batalhas Que o Covarde Fugiu

Ficaram batalhas por travar,
Por temor de algo, que eu até conheço.
Algumas batalhas, talvez até estivessem no fim...
Mas a maioria, ainda estavam em seu começo.

Descobri, que por conta das adiadas batalhas...
Outros prélios foram gerados.
E destes não é possível fugir,
Não importa quão longe vá, você sempre será atacado.

Quanta imbecilidade a minha,
Sabotado sou, por dias.
E o sabotador é o mesmo que vos fala em rimas.
Como posso, com minha própria covardia?

Eu escolhi por agora procrastinar.
E sofro com a decisão covarde.
Ainda assim, não mudo nada.
Sigo com meu disfarce, para não causar alarde.

Murro em ponta de faca,
Cair duas vezes na mesma trapaça.
Não me façam aquilo, que não queres que te façam.
Na primeira é quase legal, mas depois perde a graça.

Aviso-me, recomendando o óbvio.
Certifico-me de que entendi.
Comprovo que é penoso carregar o ócio,
Quando eu deveria persistir e agir.

O que te bloqueias?
Pergunta parte de mim.
Nada! Respondo.
Para não causar, nos ouvidos do medo, um estrondo.

Por assim, perfuraria dele, os tímpanos.
Rompendo o silêncio complacente.
Complacente, mas odioso,
Tal qual a mais repugnante realização do indecente.

Quantas das vezes, planejei...
Planos de superficial engano.
Engano de quem engana a ti mesmo.
Cobrindo: desejo e o sonho, com perfumado e alvo pano.

Vou levar mais um tempo,
Errando, aprendendo, engolindo... Sonhando!
Vou bater contra o peito... Escondido, é verdade.
Admitindo ser um covarde, ainda vou tentar continuar me enganando.

Silvio A. C. Francisco
Ipeúna / SP
30.01.2017
17:55h.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

POESIA: A Ladra do Cheiro das Rosas

Antes, uma breve explicação sobre a inspiração para este poema.
Tenho algumas lembranças dos meus 3 aos 5 anos de idade. Nesta época, morei em Ipeúna, interior do estado de São Paulo e sempre que podia, estava agarrado às grades do portão da casa que residíamos. Eu queria ver gente, ver as pessoas passarem pela rua, queria conversar com elas.

Na verdade eu desejava a rua como uma criança que deseja muito um brinquedo, mas uma pessoa especial para mim naquela época me chamou a atenção por causa de um fato curioso:

Paradinho e agarrado às grades do portão, às vezes eu via uma linda menina passar pela calçada. Muitas das vezes ela estava acompanhada, outras vezes sozinha e apressada, mas sempre que passava, vinha com ela um cheiro... Um perfume delicioso, bem verdade. Para mim e minha cabeça infantil, era o cheiro das rosas do jardim da casa da frente. Defini, então, sabe-se lá como, que a menina passava e roubava para si o cheiro das rosas. Por isso eu ficava lá, esperando ela voltar para ver se as rosas, que me pareciam tristes depois de serem roubadas, iriam reclamar o que lhes era de direito. Na maioria das vezes, via ela voltar, mas as rosas não faziam nada. Eram raros os momentos em que a menina demorava muito e minha mãe me recolhia, frustrado, para dentro de casa, antes que eu pudesse vê-la.

Um dia, minha mãe precisou ir até a casa da frente para fazer algo e me levou com ela. Por coincidência, a menina já havia voltado. Por isso, corri cheirar as rosas e o cheiro delas estava lá... O perfume que a menina pegava das rosas estava de volta. Claro, pensei então que a menina ao voltar, devolveu às rosas o perfume que as pertencia. A partir deste dia acreditei até meus cinco anos aproximadamente, que a menina emprestava das rosas o delicioso perfume e que elas eram amigas.

Outro dia (21.01.2016) estava fazendo um trabalho comigo mesmo, ouvindo musica clássica, e me esforçando para lembrar de ocorrências dos meus 3 ou 4 anos e acabei lembrando desta história. Por isso fiz o poema abaixo:


POESIA: A Ladra do Cheiro das Rosas


Quando você passava, toda formosa.
Vinda de sua casa pomposa,
Trazia consigo o cheiro roubado das rosas.

Coitadas, ficavam lá paradas,
Torcendo por seu bem precioso não se perder ao vento,
Como pessoas recém roubadas de seu talento.

E eu aqui, com mãos e dedos,
Grudados às grades do portão...
Achando-me espertalhão por saber o seu segredo.

Respirava fundo e sem jeito,
Mas o cheiro foi-se, como você e com você.
Era como se um doce encanto fosse desfeito.

Pequeno, infantil e para as rosas olhando,
Ficava eu, sabendo que a menina iria voltar...
Paradinho e esperando.

Isso era o que me acalmava o peito,
Este sentimento perfeito, da certeza, que logo ela voltaria,
Devolvendo para as rosas, o que tirado havia.

E assim eram meus dias pequenos de pequeno,
De criança com mãos e dedos,
Agarrados às grades do portão.

Eram sim, dias de espera ansiosa,
Desejando ver a ladra do perfume das rosas,
Que passava e às vezes tocava minhas mãos.

Quanto às rosas, eu olhava com pena.
Apreciava as pobres pequenas,
Tristes por estarem sem cheiro.

Suspirava fundo e enchia meu peito,
Pensando na falta de respeito,
Que era roubar das rosas, sempre ao passar por elas, o cheiro.

Eis que um dia, tive a oportunidade.
Minha mãe atravessou a rua, 
E eu fui atrás dela, na verdade.

Dentro da casa com jardim de rosas,
Estava eu agora, envolvido...
Cheirando e deliciando-me com o perfume devolvido.

A menina ladra havia retornado,
Com seus pequenos passos apressados e alegria no peito.
E devolvido para as rosas o que lhes era de direito.

Percebi então que não se tratava de uma ladra,
Mas sim de uma menina que emprestava, com amor.
Afinal, sempre que voltava, devolvia o que pegou.

Ah! Menina astuta.
Quanto renderam-me pensamentos e labutas,
Buscando entender o que realmente fazias.

Me senti mais velho e sábio naquele dia,
Já que minha cabecinha compreendia agora...
O tamanho de sua intimidade com as rosas.

A menina que ia e voltava, voltava e ia...
E o cheiro das rosas, tinha como companhia.
"Sorte", pensei eu... "Sorte a minha". Poder ver isso em meus dias.

Silvio A. C. Francisco
Charqueada / SP
22.01.2016
15:52h.


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quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

POESIA: Dona Enfadada

Enfadada amiga,
Enfadada dor.
Por que me faz ferida,
Se eu te faço amor?

Enfadada amante,
De enfadados amores.
Desgastada és, por brigas,
Que lhe causaram dores.

Mas o que te significa,
Ter de teu bem, distância?
Seria alívio na fadiga,
Ou referência do que vistes na infância?

Enfadado sonho,
Despertador de outro eu.
Tenho por ti afeto,
Mas a obsessão morreu.

Enfadada querida,
Já provaste meus sabores.
Estão pintados em sua tela: vida,
Com as mais múltiplas cores.

Rezo apenas, que não te tornes
Enfadada enfadonha.
Que de tal, fique amarga
E me cause vergonha.

Enfadada enfática,
Que ao menos nos haja tempo.
De fazer história nova,
Repleta de novos belos momentos.

Silvio A. C. Francisco
Ipeúna / SP
19.01.2017
14:39h.

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quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

POESIA: Sabedoria Alcançável

Ok, me leve de volta ao começo.
Eu errei feio, mas quero consertar.
Nunca foi fácil, nem poderia.

Muito embora, valesse a pena...
Se soubesse o trajeto e o endereço,
Eu mesmo, regressaria.

***

Com passadas firmes,
Outras mais vacilantes...
Percorri um caminho,

Onde vez ou outra, em delírio
Desejei voar,
Entretanto não seria certo fugir dos espinhos.

***

Por isso, calcei chinelos de sola rígida,
Que me fizeram feliz, por um instante.
Pisei os espinhos e amassei-os com avidez.

Já mais a frente em um leve declive,
Meu corpanzil não contive, estatelado, fiquei em chão firme.
Que fora feito do excesso de confiança e altivez.

***

Ok, me leve de volta ao começo,
Se tens o poder sobre tudo,
Ao menos por um instante.

Para eu poder sentir hoje,
O que não sentia há tempos atrás.
Por assim, que eu faça o que faz os larápios amantes.

***

Que olham com apreço,
Brilhos de falsificados diamantes.
Por fora regozijam-se e festejam...

Para tornar os olhos dos que o cercam,
Também admirados, por algo que no fundo é ninharia.
Enquanto, por dentro lamentam o objeto, que outros agora desejam.

***

Ok, me leve de volta ao começo,
Numa viagem calma e tranquilizante.
Nem que seja só para observar.

Que no fundo todos os meus erros.
Foram consequência de impensados atos,
E que outros, igualmente, com propriedade, irão errar.

***

Quer saber? Não me leve de volta.
Parto eu, daqui mesmo.
De onde estou, para novas vivências.

Está claro agora, que levar a vida com valor,
É saber terminar o que carece de fim e começar coisas novas.
Isto é sabedoria alcançável a todos. E que todos, disso, tenham ciência.

Silvio A. C. Francisco
Ipeúna / SP
18.01.2017
15:17h.