sexta-feira, 1 de maio de 2015

POESIA: Mãe

Mas sei que sob sua guarda, recebi educação, carinho, amor e cultura.
Tantos foram os momentos que seria impossível lembrar-me por completo.
Mãe, quero lembrar de momentos importantes.
São tantos, eu sei, mas a mente que trate de encontrar cada instante.

Que cada coisa escrita, sirva como um lampejo,
Uma luz que traz lembrança seja de quando fui adolescente, ou apenas criança.
Prepare-se mãe, esta é uma viajem no tempo.
Fique atenta e concentrada. Em lágrimas ou risadas, sentirá o peso de cada momento.

Caminhando apressado, sem o devido cuidado, cai cortando os lábios.
Me levantaste depressa, constrangida, queria me livrar do embaraço,
Lembro-me do circo, que sentamos na arquibancada de madeira e aço.
Tudo ficou bem no final, pois juntos rimos e gargalhamos do palhaço.

Lá se ia a boa mãe, trabalhar na tecelagem, lavar tecidos, tecer fios...
Juntar migalhas para termos o que comer e vestir.
Lembra mãe, que me deixava no colo de vó?
Eu não me recordo muito bem, mas sei que ao me deixar, tinha dó!

Dizia que era importante ter sorriso bonito.
Cuidava de mim, dizendo tudo que fosse primordial para me acalmar...
E quando me preparou por dias, convencendo-me a ir ao dentista?
Até mesmo disse coisas bobas, como: "Vai ficar com sorriso de artista!"

Ah mamãe! Sei que desejou que a chamasse assim quando pequenino.
Rejeitei de cara, pois sentia dizendo isso, ser mais menino que um menino.
Por isso sempre a chamei simplesmente de mãe. Palavra forte sem firula.
Como o sol, que mesmo à noite mostra seu brilho através da lua.

Obrigado mãe, por me preencher os dias com ensinamentos e cultura.
Lembro com frescor na memória de quando me levou ao museu,
Cinema, restaurantes, praças, ou simplesmente para passear na rua.
Posso um dia não ter vestes, mas jamais terei a alma nua.

E me dizendo para que eu me trocasse,
Anunciava que o dia seria nosso,
Delicioso era, quando quebrava a rotina.
Fosse passeando no shopping ou no clube, brincando na piscina.

Obrigado por me envergonhar diante de meus amigos,
Quando desmentindo disse que eu não tinha o vídeo game do momento.
Hoje sei que era para me ensinar e dar-me respeito. O bom ser, não mente
Relaxe, compreendi sem traumas que a riqueza está no que trago na mente.

E das discussões acaloradas de mulher versus adolescente...
Não te aflijas mãe, afinal sabes que era apenas rebeldia sem causa.
Ou talvez por uma causa... Meu amadurecer insano!
Importante é, que aprendi que tudo melhorava ao passar dos anos.

Ah! Também gosto de lembrar que me mostrou um outro mundo,
Diversidade de sabores às minhas papilas gustativas.
Nem só de carne vive o menino,
Ficou claro que é possível sair do restaurante vegetariano, satisfeito e sorrindo.

Desculpe-me mãe, por minha veia cômica de quinta categoria.
Quando de cabeça pensada e ego inflado eu invadia suas aulas de catecismo.
Cabelo despenteado e roupa de dormir, cara amassada, na cozinha a aparecer...
Tudo que eu queria era ser notado, aquilo tudo me fazia crescer.

Desculpe quando menti, ao dizer que cortei o dedo na parede.
Que absurdo, desmedida mentira. Descabida, eu sei!
Tudo culpa da gula, pecado este que me acompanha até agora.
Mas eu garanto, se cortar o dedo novamente, não mentirei para a senhora.

E por falar em machucados, como não lembrar dos dedos quebrados.
Como eu era tolo em tentar esconder o impossível.
Admito, faltava-me vergonha na cara perante tais incidentes.
Quisera eu ter na época a coragem, ao invés de sentir dor e ranger os dentes.

Mas falando de outras coisas,
Sinceras e que fizeram muita diferença em nossas vidas.
Sempre segui seus conselhos. Sei que também já te dei orgulho.
Nunca pus a mão em nenhuma droga ilícita. Você sabe, cocaína, maconha e bagulho.

Me lembrei de outra coisa, que me encheu de adrenalina.
Quando comprou em mil parcelas algo que eu queria muito.
Eu estava na rua brincando de esconde esconde, confiante como quem nada teme.
Qual foi minha surpresa, quando ouvi de dentro de casa barulho de vídeo game.

Mas algo importante plantaste em mim. Oh mãe querida.
Não foram flores amarelas, azaleias ou margaridas.
Plantaste livros e revistas, lançando a meus olhos uma seta...
Hoje, minha amada, graças a você posso ser um poeta.

E só para deixar registrado em palavras escritas,
Lembra daquele livro de poemas, pequeno de capa verde e bonita?
Me deste quando passávamos por uma feira de livros de acesso fácil,
Era mais precisamente na praça José Bonifácio.

Como toda criança já dei-lhe grandes sustos,
Como na casa dos primos,
Ganhando velocidade, descendo uma ladeira
Por estar deitado em cima de rodinhas e uma prancha de madeira.

E quando na pré adolescência,
Dentro do belo fuscão marrom de escapamento barulhento,
Paixão verdadeira... Deslizei pela estrada como no papel faz a caneta.
Pela imperícia minha, joguei o coitado recém reformado dentro de uma valeta.

E ainda falando de carros, não poderia deixar de mencionar...
Lavei com esmero o Chevrolet, pensando que uma volta escondida iria dar.
Ao fazer a curva na rua com o Monza mirando na garagem torta,
Mal motorista que era, bati na coluna de concreto amassando uma das portas.

E quando descobriste que eu estava para perder o ano letivo?
Não era por falta de notas, mas por outro motivo...
Os pés não punha na escola, por que ia para a gandaia.
Mas confesso não me arrepender de ter me divertido com alguns rabos de saia.

Muito antes disso, também na escola...
Lembre-se mãe da vez em que num farsante de araque me tornei.
Tentei sem sucesso copiar a assinatura de meu pai.
Tudo porque tirei nota baixa, porém isso não fiz nunca mais.

Poderia eu ficar aqui escrevendo estrofes intermináveis...
Tamanhos momentos ímpares que acumulei graças a sua presença.
Mas vou terminar escrevendo um verso simples e só registrando
Que por tudo o que há de mais sagrado, o mais importante é que te amo.

Silvio A. C. Francisco
02.05.2015
02:14h
Charqueada / SP

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