Quando você me disse,
Que o amor é uma crendice.
Um sentimento inventado,
Um produto comprado, uma ideia que surgiu.
Concordei com você, eramos jovens.
Experimentávamos de tudo e nada era suficiente.
As vezes havia frieza em beijos de língua,
Enquanto abraços e olhares eram ardentes.
Combinamos que o amor era um clichê...
E que clichês cabem melhor em nossos avós.
Amarramos um ao outro à nova abstração,
Daí por diante fizemos tudo juntos desatando alguns nós.
Juntamos o que tínhamos,
Não deu quase nada, mesmo assim vendemos.
Lembro dos olhos daquele cara, que comprou tudo.
Para nós eram àquela altura, apenas coisas juntadas.
Apertamos a mão do homem que comprava...
E quando nos viramos ele ainda falava do clima. Logo choveria,
Estava calor, mas nada que caísse sobre a gente nos deteria.
O amor é um escudo estranho, que fortifica ou esmaece a cada dia.
Olhamos para o homem,
E quando demos-lhe as costas, rimos em meio aos entreolhares.
Fizemos juízo de quem cria no amor, aquela invenção.
Seguimos nosso caminho, que certamente nos faria cruzar os mares.
Duas passagens de avião,
Para comer? Leite com café e pão na chapa.
Você, desapegada e no saguão do aeroporto, deitada no chão...
A cabeça repousada sobre a mala de mão.
Eu em pé olhando para a fila e vendo outras malas despachadas.
Depois de pouco tempo já estávamos no avião.
Sentados, ladeados nossos peitos arfavam cheios de emoção.
Quem nunca tivera antes viajado tão longe, agora veria do céu o que é imensidão.
Muitas horas, escalas e novo vôo,
Velho continente, ainda que preso ao aeroporto,
Escondia eu, o entusiasmo, enquanto você transbordava euforia.
Observei a felicidade verdadeira enquanto sorria.
Quando finalmente chegamos e os pés naquele chão botamos,
Suspiramos... Um misto de alegria e medo,
O que era nosso, cabia em uma mala de mão e numa outra um pouco maior.
Seguramos na mão um do outro e entrelaçamos os dedos.
Eu não sabia todos os seus segredos,
Nem você sabia os meus.
Caminhamos à procura de uma pousada,
Confiando, eu na sorte, você na bondade de Deus.
Achamos um lugar,
Nem de longe era um quarto de hotel cinco estrelas,
Mas tudo era novidade.
A grande janela do quarto já valia a pena.
A noite vencida pelo dia que nascia promissor
Ficou na minha lembrança.
Nossos instintos aguçados, permitiu a nós brincar...
Brincadeira que não cabe a crianças.
Tomamos o desjejum,
Precisava por os pés no chão. tentava tomar jeito...
Você não tomava de jeito algum.
Olhamos para a rua, desejando aventuras.
Saímos andando sem rumo,
Volta e meia eu a surpreendia com um beijo.
Até que em um lance inesperado,
Você me deixou sem jeito.
Tirou do bolso da calça jeans surrada,
Trocados, umas migalhas.
Comprou meia duzia de flores,
E as deu para mim, às risadas.
Inverteu a ordem,
Rompeu outro clichê.
Deu a mim belas flores,
Quando o normal seria eu dá-las a você.
Naquele instante,
Fizemos uma promessa,
Nos casaríamos,
Ficaríamos juntos, mas sem pressa.
Prometemos outras coisas mais,
Novamente evitar os clichês.
Você prometeu fidelidade a mim...
Eu, claro... Prometi corresponder.
Daí por diante,
Trabalhamos bastante...
Eu, fui vendedor e poeta,
Você, minha bela, professora e melhor amante.
O tempo passou... passou e passou bastante.
Conquistamos coisas inimagináveis,
Umas de amor eterno e imóvel,
Outras de amor inquieto e itinerante.
Como nós,
Que depois de muito, desejamos um clichê.
Voltar às nossas origens.
E ter um bebê.
Assim se deu mais uma etapa da vida.
Curamos algumas feridas e nos pusemos a sorrir.
Tudo para conseguirmos voltar.
Chegamos em nossa terra, prontos para um novo existir.
Logo você estava grávida,
Eu dei-te uma flor a cada mês da gestação.
Ganhava de volta um belo sorriso...
E as vezes um beijo em uma das mãos.
O tempo passou rápido,
Ainda assim,
Tudo aconteceu de uma forma que jamais vou esquecer.
Você que já havia me dado tanto, agora me dava um bebê.
Vivemos todos os medos,
Descobrimos segredos importantes.
Almejamos lidar com nosso filho de um jeito,
Mas a realidade nos fez viver algumas surpresas boas e outras maçantes.
E daí os clichês,
Tão temidos, por nós dilacerados e subvertidos.
Explodiram diante de nós.
E aprendemos a levantar e sacudir o pó.
Tudo isso nos fez pensar,
Meditar e refletir.
Achamos que vivíamos longe das fórmulas repetidas,
Mas de fato o que fizemos, foi disfarçar os clichês da vida.
Hoje, aposentados,
Mas ainda trabalhando... Este é o presente.
Ouvimos uns chorinhos, que nos levam aos prantos.
Há três "clichêsinhos", que nos deixam contentes.
Somos o clichê,
A repetição toma conta de nós.
Vivemos no clichê, distorcendo regras de pais e mães.
Isso por que vivemos tudo bem vivido antes, para hoje sermos avós.
E a vida é isso.Todas estas coisas,
É o que a vida tem a oferecer.
Você pode até viver algo novo e diferente, mas não vai se ver livre de vez ou outra,
Lançar mão de algo que alguém julga démodé.
O amor?
Como acabei de dizer...
Ele é dentre todas as repetições humanas, a mais bela.
Felizmente, o melhor dos clichês.
Silvio A. C. Francisco
Charqueada / SP
29.01.2016
18:22h.
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