terça-feira, 2 de agosto de 2016

POESIA: Janela Anônima

Janelas anônimas, das quais eu posso ver
Em noites avançadas e frias a luz amarela que brota de vocês.
E de tantas janelas anônimas, uma me chamou a atenção.
Uma vida, incógnita, misturada às incógnitas de uma multidão.

Por noites e noites apenas um brilho claro resplandecia,
Do seu televisor, aquecedor das minhas ideias vazias.
Eu sentia que a solidão era sua fiel companheira
E por vezes eu imaginava bater em sua porta, só de brincadeira.

Meu coração, se apertava,
Sempre que ela, no peitoril se debruçava.
A janela aberta estava, por pouco tempo a permitir.
Uma troca mais sincera de ares e olhares que me fazia até sorrir.

Mas logo ela desistia e sumia,
Deixando a janela vazia.
Com meu coração,
Eu ficava a espera da luz que viria para iluminar nossa solidão.

Assim foram dias a fio, semanas e até um mês,
Quando repentinamente as luzes daquela janela apagaram-se de vez.
Era estranho... Ainda mais triste a falta da sua tristeza.
Já não tinham mais janelas que denotassem qualquer beleza.

E aqui do lado, no apartamento ao meu colado,
Barulhos de moveis arrastando e de objetos sendo desembrulhados.
No meu prédio vai ter uma nova janela,
Para compor outra vista. Um ponto amarelado a mais nessa tela.

Quando o barulho se acalma,
Viaja minh'alma
E meus olhos procuram a janela morta.
A esperança recém alimentada é dissolvida pela batida na porta.

Desconcertado, me lembro da campainha quebrada.
Vejo pelo olho mágico a imagem longe de uma mulher plantada.
Meu coração dispara e minha mente custa a crer...
Estava à minha porta a dona da janela que jaz morta, esperando eu atender.

Quando me livro das trancas,
Finalmente abro a porta com olhar de criança.
Ela se apresenta e diz ser minha nova vizinha...
Eu me esforçava para ouvi-la, mas só pensava: "Que sorte a minha".

Precisando de ajuda, um pouco constrangida ela vem me pedir.
Eu, que sempre quis ajudá-la, sinto aquecer o peito, isso me faz sorrir.
Depois de muito fazer por ela, recebo um sorriso como forma de gratidão.
Quem diria que as luzes apagadas da janela triste, significariam carinho em meu coração.

A moça, que da janela triste me inspirou compaixão,
Agora muito mais próxima me ensina a espantar a solidão.
A antiga janela, continua inerte, ainda parecendo morta.
Porém aprendi que janelas são belas, mas mais belo é ter alguém batendo à nossa porta.

Silvio A. C. Francisco
Ipeúna / SP
02.08.2016
11:07h.

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